Se existe uma experiência fascinante que a clínica permite a um terapeuta é a conclusão implacável de que “não existem pessoas comuns”.
Esta é uma frase de CS Lewis e fala de uma atitude reverente diante do outro. Eu acredito que essa é a atitude correta diante de um caso clínico. Reverenciar é ser fascinado e cauteloso ao mesmo tempo. É saber que você estará ali com objetivos clínicos que mobilizam o seu trabalho. Por este motivo você precisará ter clareza sobre como aborda o caso clínico, domínio sobre critérios diagnósticos e técnicas de intervenção.
Mas este é apenas um lado da reverência. O outro é cautela: você não tem controle sobre o outro, não tem controle sobre os rumos e resultados da terapia, não tem domínio e familiaridade sobre a subjetividade do outro. Não existem pessoas comuns.
Gosto especialmente de uma história do Irvin Yalom que atendeu um paciente com TOC de acumulação. Apesar de ter empenhado tempo, estudo e interesse no caso clínico, foi sua assistente pessoal, uma organizadora nata, que promoveu significativa melhora na vida do paciente.
Se me permite um conselho para você, meu colega de profissão, eu daria este: desconfie de você, afinal, não existem pessoas comuns. Se examine quando pensar que domina um caso clínico inteiramente. Se avalie quando achar que está indo bem demais. Algumas vezes, nossa segurança esconde esta cara verdade: não existem pessoas comuns.